O grupo Descobrindo o Computar, constituído por cientistas da computação e educadoras da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (Campus São Carlos), atua na criação de estratégias para contemplar os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por meio do ensino de Ciência da Computação para crianças em idade pré-escolar. Apresentando práticas que são aplicadas desde fevereiro de 2018 em salas de aula, por professoras da educação infantil, que participam ativamente do planejamento das aulas, das formações e da análise dos resultados após as aplicações.
Nossas atividades consideram o estímulo do Pensamento Computacional e a capacidade de resolução de problemas, por meio do ensino que engloba questões de ciência, tecnologia, design e sustentabilidade. Contamos com o apoio da UFSCar, por meio de projeto de extensão universitária, em parceria com a “Creche e Pré Escola São Carlos” da Universidade de São Paulo (USP).
Neste segundo ano de atuação com o mesmo grupo de crianças, aplicamos atividades de experimentação e manipulação que abrangem saberes do campo da Eletrônica, Engenharias, Design e Matemática. No campo da Ciência da Computação, apresentamos especialmente conteúdos atrelados às linguagens de programação e interação presentes nos brinquedos, nos objetos que manipulam, nos recursos tecnológicos, nos diferentes espaços em que transitam e nos ambientes virtuais que acessam por meio de computadores, tablets ou smartphones. Com o intuito de apresentar o que tem por trás das tecnologias digitais e não digitais, relacionamos os conceitos às necessidades apontadas no currículo brasileiro para esta faixa etária.
As propostas curriculares nacionais vêm considerando o conhecimento científico e tecnológico como um grande canal para o desenvolvimento infantil, contemplando cada vez mais questões de tecnologias em seus objetivos de desenvolvimento e aprendizagem. No entanto, esses conhecimentos não estão organizados por áreas do conhecimento, mas por campos de experiências, que mesclam conteúdos inerentes a várias áreas, com o argumento de que é preciso evitar que as vivências das crianças sejam fragmentadas.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI (1998) já apresentava conceitos da Ciência da Computação em seus conteúdos de aprendizagem, como: execução de tarefas por meio de instruções; repetição, memorização; associação com exercícios pontilhados; representação da grafia numérica associada a imagens; seriação; ordenação e classificação.
A BNCC mantém os mesmos conteúdos e amplia as possibilidades de atuação para o ensino em tecnologias. Apresentando no tópico “Direitos de aprendizagem”, entre outros aspectos, o brincar como forma de ampliar e diversificar sua imaginação, criatividade, experiências sensoriais e cognitivas. Além da exploração de objetos e elementos da natureza para ampliar seus saberes em relação a cultura, isso inclui a arte, a escrita, a ciência e a tecnologia” (BRASIL, 2017).
Para ir além da simples exploração de objetos, consideramos que o ensino precede ao desenvolvimento. Arce, Silva e Varotto (2011) destacam o ensino de ciências na educação infantil como a exploração e compreensão do mundo real. No qual, novas habilidades de raciocínio, imaginação e criação são desenvolvidas, algo que não é inato. Hai (2018) ressalta que a criança compreende processos, ideias e conhecimentos durante as atividades em que pode produzir, adquirir habilidades e agir ativamente, para além do simples ato de manipulação de objetos.